Por Adriano Borges
Gilberto de Oliveira e Silva, nascido em 11 de fevereiro de 1951, em Cachoeira-BA, Aquariano, filho de Ogum, torcedor do Bahia e do Flamengo, filho de Ildelte Gonçalvez e Silva, conhecida como Dona Iaiá Gorda, uma das fundadoras do Samba de Roda da Suerdieck, Fábrica de charutos que existia no Recôncavo Baiano. Seu pai, João de Oliveira e Silva, era ferroviário, viciado em jogo e deixou a família quando Gilberto tinha, apenas, 2 anos, por pressão de seu avô materno, que não aceitava o jeito que seu pai levava a vida. É por aqui que começaremos a contar a história de uma das figuras mais importantes do segmento de táxi da Bahia, Gilberto da COASTAXI.
A Família e as Origens
Minha infância e adolescência em Cachoeira foi a melhor possível por conta das amizades que tínhamos, mas foi uma vida difícil tanto que tive que vir pra Salvador ainda muito jovem, com 16 anos. Meu irmão mais velho e eu somos filhos do primeiro casamento, depois vem os outros oito irmãos do segundo casamento, por isso minha mãe não conseguia criar a todos os dez filhos sozinha, precisava de ajuda. (A emoção já bate logo no início)
Meu irmão, que é advogado, doutor e mestre em direito, professor universitário, mas já está aposentado, e eu, que fomos os sustentáculos da família. Reencontrei meu pai 25 anos depois, ele morava no Rio de Janeiro. Tanto minha mãe quanto meu pai são falecidos.
Conheci a minha esposa, Nelma, ainda na adolescência, ela é de São Félix, cidade vizinha. Começamos a namorar em 1977, ela veio pra Salvador pra trabalhar como telefonista da Usiba, depois nos casamos em 27 de junho de 1979. Tivemos três filhos, Gildnei (40), Gilton (38) e Gilson (36).
A Chegada em Salvador e a Carreira Profissional
Quando cheguei aqui, fui morar no Pero Vaz, depois no Uruguai, na Cidade Baixa e por último na Liberdade, onde estou até hoje. Em minha chegada a Salvador, a família Mesquita, oriunda de Inhambupe, me deu amparo, indicando-me para a família Falcão, Dona Aurelina Falcão, que me empregou quando tinha 17 anos, na Buriti Bahia, um depósito de material de construção no bairro do Uruguai. Infelizmente, essa empresa não existe mais.
Trabalhei com eles até 1970, depois fui pro Exército, passei um ano e três meses lá, e voltei pra Buriti. Depois o senhor Rostano Dias me convidou pra empresa Barbará Tubos e Perfilados, porque eu conhecia muito dessa área. Eu trabalhei na construção da velha Fonte Nova, na construção do estádio Luiz Viana Filho em Itabuna, do Waldomiro Borges em Jequié, do estádio Lomanto Júnior em Vitória da Conquista, era responsável em receber o material de tubulação e fazer a exposição para os encanadores poderem fazer as montagens. Fiquei na Barbará até 1973. Depois da Barbará, fui pra Alcan, em Candeias, e em seguida pra Usiba em 1974, na BR-324, próximo a Simões Filho. Na Usiba fui ajudante de forneiro, auxiliar de almoxarifado, depois auxiliar técnico em manutenção até me aposentar em 1996.
Depois que nos ajeitamos aqui em Salvador, eu e meu irmão, minha mãe veio morar conosco. Vendemos a casa dela e compramos uma aqui, pois ela exigia que fosse um teto próprio.
A História Sindical
Minha história sindical começou na Usiba, porque me filiei ao Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia em 1981, onde me tornei diretor. Fazíamos as negociações com empresas como Usiba, Caraíba Metais, Bosch. Era a época do Plano Cruzado com uma inflação que ninguém aguentava, porque tudo subia menos o salário. Fizemos uma greve geral em 12 de dezembro de 1986, aí, eu, Edvaldo Pereira, João Paulista do Sindiquímica, Salvador de Brito, assessor da prefeita Moema Gramacho, e outros fomos presos na antiga sede da Polícia Federal no Comércio, ficamos de 10h até às 2h do dia 13. Houve muita mobilização política na época, Valdir Pires, Aroldo Lima e outros acompanharam a nossa soltura e nos levaram pra casa, foi muita repercussão na cidade, no dia.
Depois desse episódio, foi demitido pela Usiba, que alegou justa causa. Enquanto fiquei desempregado, cada funcionário da Usiba me dava dois cruzados e tinha mês que eu ganhava mais do que eles (risos). Entrei na justiça e fui reintegrado depois de 11 meses. Fui até convidado pela justiça pra ser Juiz Classista dos metalúrgicos, mas o ex-Senador, ACM, me cortou.
O Engajamento Político
Filiei-me ao Partido dos Trabalhadores (PT) após essa greve geral e a prisão. Recebi uma condecoração do partido e uma passagem pro leste europeu na época da Perestroika [em conjunto com a Glasnost, simbolizaram as tentativas de Mikhail Gorbatchev em pôr fim à crise que atravessava a URSS], fui conhecer países como União Soviética, Polônia e Hungria. Conheci diversas fábricas, montadoras de automóveis e participei de uma cerimônia com o presidente da Polônia, Kazimierz Sabbat, que era metalúrgico.
Nessa época, enquanto estava viajando, vieram dezoito colegas da Usiba e bateram a laje da minha casa na Liberdade (risos). Foi quando conheci Jaques Wagner, Valter Ribeiro, Emiliano José, Sérgio Guerra, Sergio Gabrielli, o presidente Lula e outros. Tomei curso junto com Lula, Vicentinho, Wagner e mais uma turma no Instituto Cajamar em São Paulo. Sou petista até hoje.
Começa a Vida como Taxista
Entrei no sistema de táxi em 1988, quando comprei um táxi pra ajudar Djalma, um amigo, que estava desempregado. Era um Gol BX, que ele me pagava a prestação por mês, não cobrava diária. Depois troquei por uma Parati em 1992. Nessa época, eu pegava o táxi alguns dias pra aprender como era o sistema. Aí em 96, depois que me aposentei, ele ficou com a Parati, me pagou a metade do valor do Gol BX, e eu comprei, à vista, um Gol “Bola” na Nossa Terra, nem sabia que já tinha isenções, vacilei.
Lembro-me que na Rodoviária um cara ficava apitando toda vez que a fila andava, e se você vacilasse, o táxi de trás passava em sua frente e o pessoal gritava “Alagoas, Alagoas!”, que significava que o cara vacilou (risos).
Começa o Interesse em Resolver os Problemas da Categoria
Eu rodava em vários pontos, rodoviária, Ferry-boat, Comércio, mas nunca quis entrar em rádio. Fui então procurar entender o porquê que o sindicato era omisso, ainda era a época de Lima. Eu consegui me associar, mas era difícil como é, até hoje, você tomar conhecimento do estatuto do sindicato, você não tem acesso, sempre foi um circuito fechado, acho que tem relação com aquela associação. Aquela área do sindicato, ninguém sabe o quanto arrecada, quanto se arrecada no posto de lavagem, aluguel com salão de beleza, ninguém sabe de nada.
Na época de Assanhaço, fui parar na delegacia duas vezes pra responder processo movido pelo sindicato contra mim. O imposto sindical era R$60, entrei na Justiça do Trabalho e consegui reduzir pra R$5,70, que foi estendido pra toda a categoria.
No dia que começou a vistoria, fomos pra GETAX [Gerência de Táxi, antiga COTAE] pra alertar os taxistas pra não pagarem os R$60, mas apareceu um funcionário da GETAX, que parecia que tinha algum esquema com o sindicato que não deixava a gente entrar. Fizemos uma manifestação na porta, quebramos o meio-fio pra ninguém entrar, até que apareceu a PM. O comandante veio até mim, expliquei pra ele o que estava acontecendo, mostrei a decisão da justiça e eles foram embora, porque viram que estávamos dentro da lei, defendendo o trabalhador. Foi a época do ex-gerente, Armando Yokoshiro.
Depois teve o caso das eleições, que descobri que eles mudaram o tempo de mandato de três para quatro anos e fizeram uma eleição forjada, com voto indevido, sem edital, sem nada. Por fim, eles me cortaram do sindicato e eu me decepcionei com a categoria, pois não tive apoio pra continuar a luta, somente de umas quatro pessoas, então, larguei de lado.
Surge a COASTAXI
Eu já tinha no sangue essa coisa do sindicato. Sempre achei o taxista um elefante, que não sabe a força que possui. Então, fundei a COASTAXI (Cooperativa Associativa de Assistência dos Taxistas) em 2006, com o objetivo de ser uma voz. Começamos com uns taxistas do Ferry-boat, do Pituba Parque Center e mais uma parte do Iguatemi, era uma turma que acreditava em mim. Conseguimos a instalação do sanitário e mais dois “orelhões” da Telebahia [telefones públicos] no estoque do Iguatemi.
São 15 anos em que já tivemos diversas atuações como no Tribunal de Contas, Desenbahia, GETAX, SEMOB, AGERBA, Governadoria, etc. Inclusive, o Jornal Ei Táxi tem acompanhado o nosso trabalho por todos esses anos. Vocês fazem um trabalho muito importante, que talvez a categoria não entenda a importância do Ei Táxi e por isso não saiba o valor que esse jornal tem pra gente. Vocês divulgaram o apoio que demos para o surgimento de associações em Simões Filho, em Candeias, em Dias d’Ávila, não é “rasgação de seda”, mas o jornal foi fundamental para tudo isso. Apesar da COASTAXI, eu só parei de rodar em 2015.
Chegada dos Aplicativos
Uma turma se juntou pra lutar contra isso, eu, Vicente, Adorno, Nelsinho, Rubens Palhares e outros. Na primeira viagem pra Brasília, consegui uma doação de R$ 5 mil; na segunda, consegui o ônibus com a AGERBA pra levar o pessoal; Nelsinho e Palhares deram a água e alimentação do pessoal durante a viagem; meu irmão emprestou um apartamento lá que serviu de apoio pro pessoal. Tivemos reuniões com senadores como Romário, Fátima Bezerra, Magno Malta, fomos em diversos gabinetes. Eu vi o pessoal de aplicativos invadir os gabinetes com as malas cheias de dinheiro. Augusto, nosso colega taxista daqui, foi outra pessoa muito atuante.
Se nós fôssemos caminhoneiros, esses aplicativos não estariam aqui no Brasil rodando e ainda sem pagar tributos nenhum. As leis deixam de limitar esses aplicativos. Tem limitação pra todos, ônibus, táxi, mototáxi, turismo, escolar, mas pra eles não, isso é um absurdo! Mas eles não estão aguentando com a corrida tão barata, quando o carro quebra, eles não conseguem consertar. Nem os taxistas ganham, nem os motoristas de aplicativos.
Fabrizzio Muller, novo Secretário de Mobilidade de Salvador
Quero que ele nos surpreenda, porque a gente tem que tirar o chapéu pra Fábio Mota. Então, Fabrizzio precisa ser melhor. Inclusive, já pedi pra eles tornarem aquele estacionamento de Zona Azul, em frente à Feira de São Joaquim, em área de estoque para os táxis do Ferry-boat. Já mandei ofício pro Tribunal de Contas, pro Ministério Público, pedindo interferência, mas eles dizem que é somente com a AGERBA. Os taxistas estão pagando R$130 pra usar o estoque, um assalto que a Internacional Marítima está aplicando.
Pandemia
Foi Deus nos ajudando! Eu não peguei não! A Desenbahia e o Tribunal de Contas nos ajudaram, mas foi um terror! Mandei ofícios pra COTAE [Coordenação de Táxi e Transportes Especiais], pedindo isenção das tarifas, para o IBAMETRO, pedindo isenção da vistoria do gás. O IBAMETRO disse que seria uma decisão do Governo Federal. Estou tentando com um deputado federal.
2021
Sempre Deus na frente! Tem que ter uma vacina confiável mais rápido possível. Os taxistas precisam se unir, não só de Salvador, mas de outros municípios também. Nós somos merecedores do que estamos passando, por causa da falta de unidade nossa. Caminhoneiro não é assim, eles são unidos. Precisamos de unidade na luta! (Gilberto concluiu emocionado).