Por Mauro Villar
O ano de 2023 marcou o início de mais um ciclo eleitoral, com sinais do novo governo em relação à pauta trabalhista. Neste cenário, os taxistas ainda enfrentam os impactos da crise econômica e da concorrência com as empresas de transporte por aplicativo, um fenômeno iniciado em 2014 com a entrada dessas plataformas no mercado brasileiro.
Apesar dos reveses, a resiliência dos taxistas frente às investidas neoliberais sugere um futuro menos sombrio para a profissão. Em grande parte, isso se deve ao amadurecimento e à mobilização das lideranças de classe diante de novas formas de organização do trabalho, intensivamente baseadas no uso da tecnologia e na gestão da informação.
Ao alterar a organização do trabalho, essas transformações (conhecidas como uberização) mostraram-se mais estratégicas do que tecnológicas. Longe de ser algo inovador, comprometeu as relações de trabalho e favoreceu os empresários, enfraquecendo direitos sociais, trabalhistas e a Lei Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012).
Há poucos anos, cooperativas, empresas e associações de táxis atuavam de forma isolada. Hoje, observa-se sua presença em Comissões de Audiências Públicas e casas legislativas, o que estreitou laços orgânicos e resultou na criação de confederações e frentes nacionais que vêm contribuindo para defender e propagar as demandas dos taxistas.
As ações do INMETRO e da Prefeitura de São Paulo para obrigar os taxistas a instalarem dispositivos que, supostamente, evitariam fraudes em taxímetros mobilizaram os taxistas nas redes sociais, pressionando o poder público a rever essas ações ao mostrá-las antes como punitivas e arrecadatória que preocupadas com as reais necessidades dos usuários de táxi.
Linhas de financiamento mais favoráveis é também uma pauta dessa mobilização, diante do encerramento pelas montadoras da produção de veículos mais acessíveis, prejudicando os taxistas que dependem de sedãs premium e minivans. Embora as isenções do Imposto sobre Produto Industrializado e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços vigorem em alguns estados, custos com seguros, depreciação e manutenção de veículos placas vermelhas permanecem como um fardo ainda significativo.
Ainda que se reconheça avanços, taxistas buscam implantar plataformas virtuais de alcance nacional para enfrentar a concorrência. A despeito de iniciativas locais exitosas como o Táxi-Rio, SP Táxi e outras similares, a participação de motoristas de táxi ou representantes com interesse genuíno na gestão dessas plataformas, salvo poucas exceções, é bastante incomum.
A emancipação dos trabalhadores se perde quando a ideologia do domínio tecnológico é privilégio de um punhado de empresários com poder para repassar o ônus a motoristas sem que haja uma justa contrapartida.
Estruturar mudanças de emancipação pressupõe construir laços com outras unidades da federação porque a luta deve ser coletiva e orientada contra o rebaixamento do trabalho e a financeirização da economia. O inimigo não é a tecnologia, muito menos o taxista da cidade vizinha, mas sim o modelo político e econômico atual imposto aos trabalhadores.
Participação e autonomia são a coluna de direção do trabalhismo e bem-estar dos trabalhadores.
Assim como a esteira simbolizou a exploração industrial na Europa do século XIX, hoje os algoritmos das empresas de transporte por aplicativo impõem relações de trabalho desfavoráveis aos trabalhadores, acarretando jornadas extenuantes por meio do controle intensivo de seu trabalho. Mas há razões para otimismo, diante da organização e mobilização dos trabalhadores para enfrentar os desafios aqui apresentados.
Sobre o autor:
Mauro Villar é pesquisador da Universidade Federal Fluminense e autor do livro “A vida no táxi: uma análise sociojurídica dos conflitos e das regulações no mercado da mobilidade urbana em São Gonçalo”.
Canal no YOUTUBE: @motoristaprofissional
Instagram: _motorista_profissional
Respostas de 52
Parabéns pelo seu trabalho e dedicação em esclarecer assuntos importantes aos taxistas.
Muito Obrigado, Jakeline.
sou taxista, temos que ter um app nacional, para o Brasil e um desconto no veículo elétrico, assim podemos competir de igual para igual com os app digitais
Muito Obrigado, Zé Santos.
sou taxista na cidade do RJ, gostei muito da matéria o autor está de parabéns. infelizmente não cidade do RJ temos hoje que brigar não só com os apps, mas também com uma fiscalização constante da prefeitura do RJ (superintendência de táxis) , que ao invés de ajudar atrapalha mais que deve , multando e apreende os táxis, pelo visto o taxista não são bem vindos a atual administração do atual Prefeito, mas estamos na luta constantemente.
Muito obrigado, Marcilio. De fato, entendemos que há um cenário político e tecnológico desfavorável. A luta realmente deve ser constante.
sou taxista aqui no DF,
transporte de passageiros pôr aplicativos (plataforma), em carros particulares é na verdade, pirataria digital!, portanto fora com toda forma de pirataria!, os governos são responsáveis pelas desordens que está ocorrendo.
Obrigado, Odivan. Há uma massiva proliferação das plataformas dispersa prejudicando até mesmo outras categorias.
Sou taxista a 20 anos no centro de SP hoje faço APP e no ponto as corridas tem sido muito difícil pagar aa contas devido a tudo mas ao auto custo de combustíveis, e acredito que se tivermos uma linha para comprarmos um carro ibrido ou elétrico aí talvez vai ficar mais tranquilo para nós, temos uma boa ideia de aplicativo para todos é a 27 taxi idealizadas por taxista aqui em São Paulo eu fiz até parte desse APP mas desisti por não ter corridas nele, eles querem fazer em todo Brasil mas precisam da união dos taxistas e para combater essas empresas de APP vai ter que ter preço e isso é o mais difícil conseguir.
brincadeira oque faz com o taxista, fiscalização para o taxi a toda hora, a tal da uber não paga nada não é fiscalizado. isto é uma vergonha.
Domingos roberto
Obrigado, Domingos. O Estado realmente é fraco nesse sentido.
Obrigado, Paulo. Seu comentário tem várias observações. Quanto ao app, é importante saber quem será responsável pela gestão dele. Se for empresário (que visa o lucro incessante), isso demanda um pouco de cuidado. Os trabalhadores devem pensar em um modelo gerido pela própria categoria que ofereça bem estar aos trabalhadores.
Quanto aos carros elétricos, é um tema delicado. Não basta a montadora colocar esses carros à venda sem oferecer suporte e peças de reposição no pós venda. Por enquanto, não acredito que seja um assunto amadurecido.
Só esqueci de mencionar que no canal (@motoristaprofissional) temos um vídeo que fala sobre os problemas dos elétricos. Tem mais de 2 anos que publiquei o vídeo e continua sendo atual.
O texto do autor muito coerente com relação aos dados abordados. Espero que tais discussões ajude o movimento da classe.
Sou táxista em MG-BH cooperado pela COOPERTRAMO e na minha opinião, isso mostra o tamanho da nossa desgovernabilidade deixando a pirataria digital mandar e desmandar no transporte público. Parabéns pela matéria .
Muito Obrigado, Marcos. Concordo! Desgovernabilidade é o eixo central.
Muito obrigado, Alessandra.
parabéns, muito bom…!!!
eu sou taxista no RJ e posso dizer que o app táxi rio precisa melhorar muito. mas, já foi uma iniciativa que pode ser copiada para o Brasil como um todo. abraço, táxi amarelinho
Muito obrigado, Iran. Acompanho o táxi Rio. O app tem algumas limitações (marketing, instabilidade, interferência política e gestão realizada por terceiros). Penso que a categoria ofertar um app próprio e de alcance nacional – com as devidas alterações para responder as diferenças dos municípios.
Sou taxista em BH, mas a Uber e 99 vieram para atender a população que nunca tiveram acesso ao táxi, aliás, o táxi sempre foi elitizado, e não digo isso por dizer, 35 anos de profissão e o táxi nunca foi bom o tempo todo, teve bons momentos, mas a maioria foi ruim.
A classe sempre teve um ar de superioridade, a crise veio e abaixou a crista, mas os motoristas que continuam no ponto esperando passageiros estão lascados, basta conseguir uma clientela. Se a bala e o mimo chamava clientes, conheço motorista que oferece cerveja e vinho e mimos a perder de vista. O serviço melhorou, o atendimento também, é preciso inovar.
Mas é preciso pagar imposto as prefeituras e expulsar qualquer empresa estrangeira, temos que criar e manter o aplicativo de cada cidade, afinal quem cuida da pavimentação é a prefeitura..
Impecável sua colocação, Juarez. Meus parabéns!
Muito obrigado, Tiago.
excelente visão do táxi ainda sobre um APP a nível nacional.
trabalhar sendo parceiro de quem bradava exterminar o táxi nunca.
Albino táxi POA RS
A grande revolução do táxi, seria a união de todas as cooperativas e associações em único aplicativo( uma unificação de prestação de serviço.
é o q penso… união nacional. um app único com categoria de preços.. a busca por uma linha de crédito pra aquisição de carro híbrido e elétrico..
Isso! Muito obrigado, Charles.
Muito obrigado, Albino. Bingo! é isso mesmo.
Muito bom!!
Obrigado, Everton.
Excelente análise! Temos um longo caminho ainda pela frente, infelizmente não temos investimento para um app próprio.
Parabéns!
O ideal seria que todos os representantes da categoria se reunissem e conversasse com as montadores,para que colocassem na prática um carro especialmente para o táxi a nível nacional.Porque hoje o que se tem e um carro de passeio que não aguenta o serviço de táxi.
Obrigado, Dorival. Seria ideal mesmo. A mecânica dos veículos brasileiros são bastante instável.
Obrigado, Katia. Vejo algumas iniciativas interessantes em andamento. Manda uma mensagem lá no instagram (se quiser seguir o perfil), que te envio uma que vem se mostrando promissora.
Muito obrigado, Katia.
Parabéns ao autor por este texto tão rico e reflexivo, que aborda com profundidade e sensibilidade os desafios enfrentados pelos taxistas no cenário atual. Sua análise vai além da superfície, trazendo à tona questões fundamentais sobre as transformações no mercado de trabalho, a luta por direitos e a importância da organização coletiva para enfrentar um modelo econômico que privilegia poucos em detrimento de muitos.
Muito obrigado, Silvia. Agradeço imensamente o carinho.
Presado Mauro Villar, eu acrescentaria no seu texto que os taxistas estariam em melhores condições se acreditassem mais em seus sindicatos, e se não concordassem com sindicato, que começassem participar para que ele sejam cada vez mais, uma amostra categoria pensamento da categoria.
Muito Obrigador, Roberto. Realmente a questão dos sindicatos deveria ser um texto à parte. Isso porque foram uma das poucas representações que se posicionou – antecipadamente – quanto ao tema.
O enfraquecimento da classe se dar a falta de representação politica. Está na hora de separar pensamentos retrograda pra o futuro, ainda temos sedes de cooperativas sem representação em locais sujo sem acesso indeiscente . Já temos que mudar nossos representantes se unir,escolher um futuro político com caracter, somos 33 mil eleitores direto fora os familiares que chega a casa 90 mil.
Concordo, Daillton. O tamanho da categoria e a falta de representação genuína é discrepante.
Muito bom!
Muito Obrigado, Júlia.
Enfim,
alguém diz,o que muitos fingem não saber.
Até que um dia, a uberizacao ,leve todos os seus sonhos.
Para Califórnia claro.
Bom texto.
Continue assim.
Muito obrigado, Eric.
Muito obrigado, Luis. A uberização não precariza só o trabalho de motoristas, mas avança para outras categorias.
Muito obrigado, Luis.
Sua erudição é impressionante, sempre com comentários, conceitos e percepção ímpar, o que nos faz pensar, discutir e questionar o quanto uma sociedade tão plural pode caminhar em uma singularidade no que diz respeito as perdas enfrentadas pelo movimento dos taxistas, pois as mesmas demandas refletem na sociedade de modo geral. Taxistas, metroviários, aeroviários, rodoviários…, necessitam urgentemente de políticas públicas que acolham, desonerem e estreitem as artérias de comunicação com os órgãos reguladores e o governo.
O trabalhador é o mecanismo mais importante de uma nação, sem ele o Pib 2,174 trilhões USD (2023) do Brasil, não seria possível, desta forma caminho com o pensamento do quão importante é nos organizar como sociedade na busca do bem comum.
Bertolt Brecht escreveu algo interessantíssimo,
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Dito isto, venho ratificar o quão importante é uma sociedade coesa, pois só a luta muda a vida!
Muito obrigado, Alexsandro. Aceito com carinho seu elogio. Você foi no cerne da questão com dados e poesia. Muito bacana sua resposta.
Sou taxista aqui em Niterói a 30 anos, e gostaria de parabenizar o jornal e o autor pela matéria, acrescentando somente que, do fato da uber está aceitando taxistas na sua plataforma, demonstra que uma parte significativa do mercado está no sistema público de transportes taxi, coisa que a mesma tinha como estratégia de domínio exterminar.
E é com grande tristeza que vejo colegas taxistas aderindo a esta plataforma que, tem como objetivo principal e final viabilizar o carro autônomo, para desta forma concentrar 100% da receita somente para ela, eliminando taxistas e motoristas particulares do sistema.
Muito obrigado, Sérgio. Pela sua resposta, noto que você conhece bem o mercado. Sua percepção é central nesse debate.