Era noite quando tocou no aplicativo da cooperativa de táxi uma corrida, era dona Solange proprietária do salão de beleza, que ao embarcar, elogiou minha celeridade e criticou a falta de transporte público.
Eu comentei: é culpa dos carros de aplicativos. E tratei de explicar.
Olha senhora, com uma oferta grande de carros de aplicativos, começou uma concorrência com transporte público. Na tomada de decisão sobre qual transporte pegar, prevalece a escolha do carro por aplicativo, uma vez que estes não têm empregados e têm valor mais favorável ao passageiro. Então, com a baixa procura por ônibus, a empresa aumenta o tempo de espera e deixam os ônibus lotarem nos horários de pico para ter um ticket médio mais alto e assim pagar as despesas.
Continuei: todos nós vendemos produtos e serviços. A quem interessa o motorista de aplicativo mal remunerado? Ele não terá como mandar a esposa dele ao salão.
Solange ficou abismada e concordou com a minha análise.
– Vixe! Realmente.
Os demais passageiros riram e foram unânimes em concordar.
– E por que isso? Indagou, ela.
Respondi: culpa da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], que apoiou a entrada dos aplicativos no Brasil, de forma ilegal e irresponsável; culpa do Ministério Público, porque achou que a concorrência com o táxi não era desleal. Mas essa concorrência promove o desequilíbrio nos transportes, gerando desemprego e neo-escravidão; culpa do Procon [Instituto de Proteção e Defesa do Consumidor], que deixou uma empresa cobrar quanto quisesse na hora que quisesse, para ferrar o transporte público. Já pensou se nos finais de semana, o salão tivesse os serviços mais caros e no período do almoço, o restaurante aumentasse o preço?
E logo falaram preço dos produtos verso o preço dos aplicativos.
Eu falei: está tudo caro, por causa dos carros de aplicativos. Soou como implicância, mas devido aos meus argumentos anteriores, pediram explicação e ouviram atentamente.
O elo entre produtos e serviços é o transporte, que demanda combustível. Se mais pessoas trocam o ônibus pelo carro de aplicativo, o consumo de óleo diesel está sendo substituído pelo consumo de gasolina. Então, com o aumento da demanda por mais a gasolina, o petróleo se valoriza, sobe de preço nas bombas e puxa, praticamente, todos os demais produtos, alimentação, vestuário, remédio. Enfim, como em cascata, tudo aumenta de preço.
Claudio Oliveira de Almeida
Taxista de Salvador
Alvará (A-2471)
Respostas de 2
Boa análise, parabéns ao Cláudio pela justificativa plausível.
Para completar o comentário do colega, ainda tem a questão dos próprios motoristas e cobradores que ao deixarem a jornada de trabalho deles, vão trabalhar com os app com seus carros e fazendo a própria concorrência com a empresa em que trabalham. E o conhecido tiro no pé. O exemplo disso está aí na própria quebrança do sistema onde os motoristas demitidos aguardam a recisão trabalhista.