A recente tentativa da Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob) de credenciar novos taxistas é um triste exemplo de como a burocracia e a falta de sensibilidade para com a realidade socioeconômica podem transformar uma iniciativa potencialmente positiva em um completo fiasco. Este editorial busca analisar criticamente o desenrolar deste processo seletivo, cujos resultados até aqui mostram uma clara desconexão da Semob com a vida real dos taxistas.
Imagine um navio em alto-mar, navegando sem bússola e ignorando as tempestades à sua volta. Essa metáfora resume bem a postura da Semob ao propor um edital com critérios que, desde o início, pareciam condenados ao fracasso. A exigência de um veículo seminovo com até 2 anos de uso é, no contexto atual da economia brasileira, tão irrealista quanto pedir que um marinheiro afundado em dívidas compre um novo iate para continuar pescando.
De mais de quatro mil candidatos, apenas 277 conseguiram estar aptos para disputar um dos quinhentos alvarás disponíveis. Destes, meros 94 foram habilitados, enquanto 183 ainda tentam resolver pendências burocráticas. Esse número ínfimo de aprovados é um naufrágio anunciado, refletindo a falta de comunicação e previsibilidade por parte da secretaria.
O presidente da Associação Geral dos Taxistas (AGT), Denis Paim, já alertava que exigir um veículo com apenas 2 anos de uso era um prazo pouco realista. E ele estava certo. A Semob, liderada pelo secretário Fabrizzio Muller e pelo diretor de transportes Armando Yokoshiro, parece finalmente ter acordado para a dura realidade enfrentada pelos taxistas. No entanto, essa tomada de consciência chegou tarde demais, como um farol aceso após o navio já ter colidido com as rochas.
A Semob agora cogita a possibilidade de flexibilizar o tempo de uso dos veículos, numa tentativa desesperada de salvar o processo seletivo. Este é um malabarismo tardio que, mesmo que bem-intencionado, não apaga o fato de que a secretaria, ao formular o edital, estava navegando em mares distantes da realidade dos taxistas de Salvador.
O maior entrave, a aquisição de um veículo seminovo, revela o quanto os responsáveis pela mobilidade urbana desconhecem a precariedade financeira dos auxiliares de táxi. Muitos destes profissionais, já sobrecarregados pelas exigências do dia a dia e pela crise econômica, simplesmente não podem arcar com os custos elevados de um carro novo ou seminovo.
A Semob deve entender que gerir um sistema de transporte público exige mais do que reuniões em salas com ar-condicionado e decisões tomadas a portas fechadas. É fundamental que haja uma escuta ativa das necessidades e dificuldades dos taxistas, aqueles que estão nas ruas, enfrentando os desafios cotidianos. As políticas públicas devem ser moldadas não pela perspectiva teórica de um gabinete, mas pela realidade prática vivida nas ruas.
Resta-nos observar qual será o próximo movimento da Semob para tentar remediar o fiasco deste processo seletivo. Será que finalmente ajustarão suas velas à direção correta ou continuarão à deriva, repetindo os mesmos erros? Só o tempo dirá, mas é certo que os taxistas de Salvador merecem uma gestão que os compreenda e apoie verdadeiramente.
Respostas de 4
Processo seletivo totalmente incoerente o edital fez tanta exigência e mostrou falta de transparência no resultado final dos habilitados.
Acho que a SEMOB poderia rever esse situação e refazer credenciamento.
no meu ver o sistema de táxi ensi já está falido, em um cenário de uma capital onde o transporte clandestino próspera cada dia mais , esse processo seletivo aí é um fiasco,
Esse texto reflete, com coerência, todo o edital do processo seletivo. Sugerimos que, A SEMOB crie políticas de flexibilidade para aquisição do veículo uma vez que, de acordo com a política atual, o desconto só é ofertado pelas montadoras, após a aquisição do alvará.
Esse texto reflete, com coerência, todo o edital do processo seletivo. Sugerimos que, A SEMOB crie políticas de flexibilidade para aquisição do veículo uma vez que, de acordo com a política atual, o desconto só é ofertado pelas montadoras, após a aquisição do alvará.