Por Antonio Carlos Aquino de Oliveira
Meus primeiros contatos com o mundo mágico da educação foram com minha mãe, tios e tias que se preocupavam com a minha forma de sentar, pegar nos talheres, tom de voz, asseios básicos, detalhes de postura e atitude, conceitos de respeito e valores humanos.
Depois, o aprender a ler, escrever, estudar caligrafia e tabuada com as primeiras professoras, e seguir estudando as matérias propostas na educação formal e chegar à faculdade, à pós-graduação. Minha primeira experiência como professor foi quando ainda era estudante universitário. O magistério nunca foi minha profissão principal ou meio de vida, mas uma paixão, cheia de sentimento e emoção que acabou quando notei que os aspectos de disciplina, interesse, curiosidade e vontade estavam minoritários entre meus alunos.
O tema ainda me move, atrai e desespera. Nada mais agradável que estar em ambientes civilizados e com pessoas educadas, gentis, que por práticas e posturas, são também mestres. Nas palestras que faço e debates de que participo, com os estagiários que treino, sinto na alma que as coisas mudaram e eu não percebi, não entendi. Algo está rompido entre o individual – pessoal e o coletivo – comum, como se o mundo deixasse de ser feito por pessoas e cada pessoa de repente passasse a ser e ter um mundo em si e para si, “empoderada”, cheia de direitos, sem deveres ou responsabilidades.
No que não explico, mas compreendo como a falência total e absoluta do sistema educacional – família – escola – instituições e sociedade – inquieta-me profundamente tentar entender como alguns dos “ainda privilegiados” brasileiros que têm acesso à formação acadêmica possam ser e estar tão deformados. O que leva profissionais que passaram mais de 20 anos estudando, frequentando os mais sagrados ambientes das escolas e lares, a perpetrar tamanhas barbaridades contra seus semelhantes como as que assistimos e tomamos conhecimento pelos mais diversos canais de comunicação.
Analisando a formação acadêmica de parte significativa das bancadas das casas legislativas, os requisitos dos cargos dos poderes executivos e judiciários, é inacreditável que possa existir e coexistir no século XXI tanta improbidade, irresponsabilidade, negligência, improdutividade, prevaricação, desvios e apropriações indébitas. Resumindo, crimes hediondos praticados exatamente pelos mais aptos e preparados para não cometê-los.
Uma das minhas profissões, a minha formação acadêmica – Administrador – comemora 50 anos. No bojo da análise do que temos a comemorar, desde quando éramos “técnicos em administração” para os pós–doutores de hoje, sinto que a evolução é por demais complexas para ser percebida e explicada pelo lado das ciências humanas e mais facilmente justificada pela tecnologia, pela industrialização, pelo material, econômico e físico.
Percebo claramente toda a profundidade da minha ignorância, o primarismo do meu estágio espiritual e a minha pobreza intelectual quando não entendo e não explico o que seja a educação hoje, porque exatamente a bandeira que sempre empunhei, o mantra que sempre defendi de todas as formas e jeitos, esteja a produzir os mais bárbaros criminosos que se possa conhecer, com o seus saberes e conhecimentos usados para o mal.
Ao abordar com tristeza – o saber que mata e destrói – comemoro e agradeço a dedicação, a disciplina, os altos estudos e trabalhos dos gênios, cientistas e intelectuais, escritores e professores, profissionais dos mais diversos campos do saber, abnegados que em todas as áreas, fazem a diferença, sustentam e fazem existir a humanidade, o ainda existe de bem-estar, chama de esperança.
Precisamos, com todas as nossas forças e coragem, apostar na educação civilizadora, na educação como instrumento de liberdade, da perpetuação e evolução da espécie, da sustentabilidade ambiental, da paz e coexistência pacífica entre os povos e os diferentes.
Diplomas, currículos, cargos e títulos por si só não já não valorizam e qualificam pessoas. Mais que nunca, são os básicos e elementares valores humanos, a velha e cantada educação doméstica, que diferenciam as pessoas. Gentileza gera gentileza e violência gera violência, obviedades relegadas. O mundo precisa de “gente” que sabe e faz, pois no desequilíbrio dessa balança planetária tem muito “bicho” que estudou e não aprendeu, jurou e não cumpriu, formou-se e deformou-se.
Um homem que, por saber e conhecer, tem a exata noção do mal que está fazendo a alguém, à sociedade e à humanidade e o faz, não merece perdão.
Antonio Carlos Aquino de Oliveira
Administrador – Consultor – Publicitário – Empresário
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