“Não Consigo Respirar” Por favor!” – Carta Aberta – Por Roberto Rodrigues

Vamos, escute!

OUÇA e deixe a frase reverberar em você.

Entenda que é inadmissível esse estado de coisas no qual a justiça tem cor, e a injustiça também.

“I cant breathe! Please!”

Vamos, escute! Nesse ou naquele idioma, ou em outro qualquer.

“Não consigo respirar!” Ouça!

Dessa vez, a súplica veio de George Floyd (46), na segunda-feira, 25, em Minneapolis, nos Estados Unidos. Um negro. Sempre um negro. E mais uma vez a frase não foi ouvida: “Não consigo respirar! Por favor!”

Os Estados Unidos estão em chamas. Porque não souberam ouvir.

Impossível escapar à comparação. No Brasil, acontece coisa semelhante ao que vitimou George Floyd. Nas periferias, jovens negros são mortos às centenas. Crianças e mulheres “encontram” balas perdidas. No Brasil, também, a frase está há muito posta e repetida, em alto e bom som:

“Não consigo respirar! Por favor!”

A Secretaria Estadual do Movimento Negro do PDT-BA, não pode deixar de se manifestar nesse momento. Chamar a atenção de todos para o fato de que o que acontece nos Estados Unidos, com uma resposta massiva da população nas ruas, é a reação ao grito de todo um povo negro. O que acontece nos Estados Unidos não é um levante, não é uma insurgência, não é uma revolta. É uma resposta. Uma resposta à fala: “Não consigo respirar!”

Caso somemos os afro-americanos com hispânicos, nos Estados Unidos, chegamos a algo como 25% da população total. Afro-americanos apenas, algo como 13%. No Brasil, os negros chegam a quase 57% do total da população!

Já imaginaram se formos às ruas para, enfim, fazermos com que os governantes desse país entendam que toda ação, em algum momento, redunda em reação?

Esses governantes que apoiam o braço armado e fardado que entra em comunidades atirando e ceifando a vida de tantos negros inocentes; esses mesmos governantes que, por outro lado, agem para que as periferias sejam áreas sem lei, ou afastadas da lei, e entregues a comandos, facções e milícias.

Governos e governantes: Ouçam! Não conseguimos mais respirar!

Somos pela paz. E continuaremos tentando, como sempre fizemos, chamar a atenção da sociedade brasileira para o fato de que não é mais possível sustentar uma realidade tão desigual, que coloca um abismo entre o asfalto e a favela.

Não conseguimos respirar! Por favor!

Escutem! Entendam!

Pois, para além do querer de pacifistas, como nós, há a conhecida reação advinda da gota d’água que transborda o copo. E nesse caso, implantado o conflito, mesmo aos pacifistas é cobrado tomar uma posição. E nosso lado é conhecido.

Para se ter um mundo com menos diferenças sociais, econômicas e educacionais é preciso atitude. E é o que está faltando, para além dos discursos.

Ver um homem negro, rendido por vários policiais, jogado ao chão, algemado e sendo morto por sufocamento por um policial branco, com o joelho em seu pescoço, é uma imagem terrível. Pensem em uma criança negra vendo aquilo. É como que um aviso. Um aviso doentio e covarde, mas um aviso. Negro pode morrer, de qualquer jeito e a qualquer hora, pelo braço armado e fardado dos governos. Isso acontece em vários países. Aconteceu nos Estados Unidos, mais uma vez, dessa feita dia 25 de maio, uma segunda-feira. E acontece cotidianamente no Brasil, onde temos mortes (assassinatos) parecida(o)s, todos os dias.

Nos Estados Unidos, a resposta está sendo dada, nas ruas.

Não conseguimos respirar! Por favor!

E que quem tem ouvidos, ouça.

Para que a resposta a essa súplica, no Brasil, também não precise ir às ruas.

Os movimentos negros têm a responsabilidade de chamar a todos à responsabilidade. Publicizar o alerta. É o que estamos fazendo. Porque somos pacifistas.

Mas temos lado.

E quem tem ouvidos, por favor, ouça:

Não conseguimos respirar!

Roberto Rodrigues

Presidente da Secretaria Estadual do Movimento Negro do PDT-BA

[email protected]