Conheça a história da Coopertáxi BH, empresa que saiu da quase falência, espera atingir 150 mil corridas em dezembro e obteve uma proposta de compra da 99
Por Helton Carlucho
Leonardo Souza, Diretor Operacional da Coopertáxi BH, conta a história da cooperativa que tem conseguido vencer a crise. Ele, que assumiu a posição em 2014, em meio à ascensão dos aplicativos, fala sobre as estratégias adotadas, como conseguiu unir os taxistas em torno do projeto e conta como a cooperativa está incomodando os aplicativos que atuam com veículos particulares na cidade.
Atualmente, a Coopertáxi BH conta com 848 carros, mas apenas 438 deles são cooperados. O número de corridas cresceu ao ponto de ser necessário “terceirizar” o serviço. Cerca de 400 motoristas, sem vínculo com a cooperativa, atuam para dar conta das mais de 127 mil corridas por mês. A meta é chegar em dezembro com 150 mil solicitações. O sucesso é tanto que a 99 tentou comprar a Coopertáxi BH. Confira a entrevista:
Ei, Táxi: Como era a realidade do taxista em Belo Horizonte antes do surgimento dos aplicativos de carros particulares, e o que aconteceu depois que eles chegaram?
Leonardo Souza: Nós tínhamos muitas corridas. A Coopertáxi, por exemplo, sempre foi agressiva, chamava em torno de 120 mil corridas por mês. Com a chegada dos aplicativos, fomos caindo, chegamos a chamar 44 mil corridas no mês de janeiro. Nós achávamos que a cooperativa ia quebrar.
ET: Como vocês reagiram a essa situação?
LS: Compramos a ideia de dar 20% de desconto. Três meses depois, resolvemos dar 30% no aplicativo. Investimos em propaganda em jornal, rádio, outdoor, site, redes sociais. Contratamos promotoras de eventos, colocamos na rua para distribuir o aplicativo e cupons de descontos. Foi aí que começamos a crescer aos poucos, aumentamos 10, 15 mil corridas, e fomos trazendo o cliente novamente e mostrando o nosso diferencial.
A primeira coisa que o cliente quer é o desconto, segundo o atendimento rápido, tem que ter carro para atendê-lo. E o motorista precisa comprar a ideia. Hoje damos o desconto, mas o motorista não fica parado. O tempo todo são oferecidas corridas para ele.
ET: Essas medidas encontraram algum tipo de rejeição por parte dos taxistas no início?
LS: Diziam: ahh, o desconto é muito grande. Eu dizia: não, vamos tentar, estamos brigando com um gigante. Com os 20% nem todos os clientes aceitavam, quando aumentamos para 30% mais clientes aderiram. O desconto de 30% não é obrigatório, mas, hoje, 841 taxistas aceitam, e apenas 7 não.
ET: Qual a realidade da cooperativa hoje, após essas medidas?
LS: Fomos crescendo aos poucos. Um ano, dois anos, com todo o trabalho, todo o investimento, e brigando com os aplicativos. Para você ter uma ideia, no mês de outubro, chamamos 127 mil corridas e cancelamos 12 mil. Isso que me preocupa, cancelamos corridas demais. Fizemos uma assembleia recentemente, onde apresentamos aos cooperados a necessidade de colocar mais cotas (taxistas cooperados), mas não conseguimos aprovar. Aqui temos patamar para mil carros. Hoje, a cooperativa está se vendendo, o aplicativo da Coopertáxi está na boca do povo aqui em Belo Horizonte.
Acredito que esse mês fecharemos com 135 mil corridas, temos uma média de 5 a 6 mil corridas ao dia. Estamos crescendo cada vez mais. A meta é chegar em dezembro com 150 mil solicitações.
ET: Sabemos que táxis de fora da cooperativa atuam para vocês. Conte-nos sobre isso.
LS: Como aumentou muito a demanda e não podemos aumentar o número de cooperados, porque precisa passar em assembleia, nós levantamos a possibilidade de abrir para o parceiro e foi aprovado.
Cai a corrida primeiro para o cooperado, um minuto depois ela vai para o parceiro, que é o motorista que não é da cooperativa, mas que usa o adesivo, que veste a camisa da Coopertáxi, que vende o aplicativo para o cliente. Se o cooperado não consegue atender, o parceiro atende às corridas. Eles estão satisfeitos, pagam R$ 33,00/mês. Na verdade, só é cobrado dele a licença.
ET: Qual o faturamento médio de um taxista da Coopertáxi BH?
LS: Varia. Uns fazem R$ 10, R$ 12 mil, por que rodam com dois motoristas. A média é R$ 7 mil. Alguns que rodam pouco, só na parte da manhã, fazem em torno de R$ 4 mil.
ET: Você assumiu a função de diretor operacional há 6 anos? Você pretende concorrer à reeleição?
LS: O mandato é de dois anos, agora em março [de 2020] tem eleição novamente. Pretendo me candidatar de novo. Tem várias chapas, alguns falam em mudança, outros que tenho que continuar, mas quem escolhe é o cooperado.
ET: Qual é a sua visão sobre rádio táxis? Você acha que é viável, não, ou é uma solução?
LS: O futuro é o aplicativo. Inclusive acho que futuramente os pontos de táxi vão acabar. A maioria das pessoas está indo para o aplicativo, porque é mais fácil. Hoje, ainda temos as pessoas mais antigas que gostam de chamar pelo telefone, mas o futuro é o aplicativo.
ET: Você acha que o taxista deve atuar através de aplicativo ainda que de terceiros?
LS: Às vezes o motorista usa outro aplicativo por sobrevivência. Às vezes a Coopertáxi não está chamando em determinada região, um outro aplicativo toca, ele pega a corrida e até tenta conversar com o cliente para trazer para cá. Lá (no particular), às vezes está no dinâmica, ele fala: chama a Coopertáxi, que não tem tarifa dinâmica. Vejo uns assim. Agora, outros não.
ET: Qual é a sua visão sobre o futuro do mercado de táxi?
LS: Eu vejo a nossa cooperativa em crescimento o tempo todo. Visão de que vamos dar a volta por cima e virar o jogo. Para você ter uma ideia, a 99 já nos procurou para tentar comprar a cooperativa. A gente incomoda muito os aplicativos, porque estamos crescendo.
ET: Quando aconteceu essa proposta da 99?
LS: Tem pouco mais de um ano. Ficaram muito interessados, vieram aqui, conheceram a estrutura.
ET: O que você diria para o taxista que vive preocupado com o seu futuro na profissão? E o que ele deve fazer para enfrentar essa concorrência?
LS: Falo para o motorista nunca desistir, que ele tem que comprar a ideia do desconto, não por conveniência, mas dar o desconto mesmo. Vestir a camisa, divulgar a empresa, vender o aplicativo dele, ver onde está errado e tentar melhorar. Tem que trabalhar bem vestido, ser cortês, se possível andar com o carro limpo o tempo todo, dirigir bem, prezar pela segurança. O taxista tem que se redesenhar na praça.
Uma resposta
Parabéns Coopertaxi.