Por Conrado Matos
O fato de recomeçar é considerado uma monstruosa atitude para muitas pessoas. Algumas pessoas sejam por falta de autodeterminação protelam um recomeço. Outras pessoas são em consequência do medo do novo. Falou em enfrentar algo desconhecido é motivo de várias pessoas desistirem por causa de um pequeno temporal. É preciso entender que quanto mais alguém continua refém da caverna, seu campo se fecha. Eu falo às vezes para alguns dos meus analisantes sobre a importância de enfrentar o desconhecido. Para desatar o laço é necessário força e coragem. Mudar é constantemente. Ninguém consegue alcançar um objetivo se não houver o interesse de encarar o novo. Os campeões não são somente os que acumulam medalhas, mas os que enfrentam a vida todos os dias. Ficar parado cansa mais do que ficar em movimento. Dizem que carro parado por muito tempo trava tudo. A bateria descarrega. O deprimido se queixa de tudo e se acha incapaz.
Existem pessoas que se acham incapazes de mudar. Geralmente, pessoas com falta de confiança sabotam sua autonomia. A autonomia é fundamental para tomar decisões. Viver com responsabilidade é uma forma de agir com autonomia. Têm situações que depende às vezes do meio, no entanto, temos que ter coragem de superar as adversidades do meio. Pessoas que apresentam atitudes subversivas e de liberdade são mais capazes de ultrapassar barreiras. Elas são mais corajosas e autodeterminadas. Essas pessoas não aguardam o meio direcionar, mandar. Elas mesmas assumem o comando do meio e seguem caminho. Ao contrário de muita gente que fica permitindo que o meio determine que um comandante diga como é que tem que fazer e a hora para começar. Quem sabe, não espera a hora. Quem é independente faz acontecer, mostra resultado. Portanto, para mudar não depende sempre do meio. Depende também das suas atitudes próprias.
Já falei em muitos dos meus textos sobre a empatia. Por exemplo, escutar com empatia, é compartilhar com o sofrimento do outro, está disposto a estender as mãos para alguém. Escutar com empatia, é vivenciar o momento do sofrimento do outro, dar atenção e respeitar. O psicanalista dotado de uma escuta atenciosa e de muita autonomia, recebe toda carga do lixo do seu analisante e juntos interpretam. Lacan, psicanalista francês, costumava dizer que o psicanalista era como uma lixeira. De fato, uma lixeira que amortece o conflito do outro e devolve com palavras capazes de reciclar o que contamina o seu analisante. O que provoca dor. Realmente, escutar precisa de arte. Não é simplesmente ouvindo sem se envolver. Para uma boa escuta é necessário se envolver temporariamente. O analista se envolve e sai. Mas, deixa palavras de compreensivas reflexões. Portanto, agir com empatia não é se envolver como se tivesse apenas dando um alô e já foi. É muito mais, é agir com amor e sabedoria. É preciso Filosofia, compreensão e acolhimento ao outro. Escutar fica para quem sabe amar.
Conrado Matos – Psicanalista, Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia. Especialista em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade Federal da Bahia UFBA.