“A oferta de transporte de passageiros no Aeroporto de Salvador saiu de controle, definitivamente, após a pandemia do coronavírus, aliás, o transporte clandestino é um câncer que Salvador carrega”. Quem faz esta afirmação é o taxista Reginald Cohim, que faz parte de uma das cooperativas de táxi que atuam no terminal aéreo da cidade. A imagem, que mostra homens posicionados no portão de saída do saguão é forte e difícil de ser contestada. A Coordenação de Táxi e Transportes Especiais de Salvador (Cotae) garante que tem realizado operações nos horários de voos, mas que é difícil identificar e não compete a ela coibir este delito. A Polícia Militar afirma que realiza todas as operações de combate ao transporte clandestino na cidade, sempre que é solicitada. Enquanto isso, a onze anos Estado e município brigam pelo título de incapaz em resolver o problema.
Imagine a seguinte situação: você acaba de desembarcar no aeroporto de uma das maiores cidades do país e se depara com pessoas posicionadas na saída do portão de desembarque, aliciando os passageiros e oferecendo o serviço de transporte. O que você pensaria? Seria forçar a barra ou você acharia isto uma bagunça, uma terra sem lei?
Pois bem, no aeroporto de Salvador esta cena se repete diariamente. Indiferentes à presença de taxistas, fiscais de transporte ou até policiais militares, homens oferecem o serviço de transporte de passageiros sem qualquer cerimônia, aliciando as pessoas que chegam à capital baiana, segundo afirma o taxista Reginald Cohim. “Aeromangue mesmo! Parece que o prefeito ACM Neto e o governador Rui Costa chutaram o balde de vez, largaram de lado o principal terminal de transporte da cidade. Se a situação já tinha piorado depois que a Vinci Airports passou a dar muito mais espaço para os aplicativos do que para o táxi, que é o serviço regulamentado, paga todos os impostos e tem um contrato para poder explorar o aeroporto, agora, a coisa foi pro brejo de vez. É melhor ACM Neto e Rui Costa irem no aeroporto pra fechar o caixão do taxista, pois só falta isso”.
A revolta nas palavras do taxista é compreensível se for levada em consideração que a atuação do transporte clandestino nos principais terminais da cidade, aeroporto, rodoviária e ferry boat, é algo que não se resolve há mais de uma década. Os anos passam e nenhum gestor, seja municipal ou estadual, encara a situação com a devida importância.
Cohim, que roda no terminal aéreo há 31 anos, possui um histórico de enfrentamento desta ilegalidade ocorrida no transporte de passageiros em Salvador, especialmente no aeroporto onde chegou a sofrer ameaças e agressões físicas. “Eu fui vencido pela política, eles não estão nem aí pra gente. Venho nessa luta há anos, até o Ministério Público Estadual e Federal já foram provocados, mas nada. Tenho pena do taxista que ainda se ilude com esses políticos daqui, seja ele de qualquer lado, é tudo engabelador de voto”, brada.
O taxista lembrou também que tudo passa pela assinatura de um convênio entre a prefeitura de Salvador e o governo da Bahia, que existia na gestão do ex-governador, Paulo Souto, e que foi desfeito em 2009, na gestão de Jaques Wagner. “Desde que o convênio entre prefeitura e a Polícia Militar, que tinha o objetivo de combater os clandestinos, foi desfeito em 2009, a situação só tem piorado. De lá pra cá, houve algumas tentativas de reativá-lo, porém sem sucesso”, conta o taxista.
Segundo Clemilton Santos, chefe da Cotae, o órgão tem feito a sua parte, dentro do possível, porque existe o decreto que afastou muitos servidores e também porque esta situação envolve a necessidade de força policial. “A nossa fiscalização tem priorizado os horários de voos, já que estamos com o quadro de funcionários reduzido por conta do decreto. Essa questão de aliciadores é subjetiva e o agente não identifica isso. Se o cara tá com o carro estacionado numa vaga de embarque e desembarque, nosso pessoal tem autuado. Agora, essa questão de aliciador não tem como adivinhar e nem coibir, isso é questão da polícia. A gente tem priorizado o ferry boat, a lancha [terminal marítimo] e os supermercados, onde está tendo movimento de táxi, estamos fazendo o possível, dentro da nossa possibilidade, mas não dá pra plantar lá no aeroporto, a gente não tem como. Além disso, é uma questão de polícia, o agente não vai poder fazer muita coisa”, disse o coordenador.
Questionada sobre a sua responsabilidade no assunto, a PM da Bahia respondeu através de nota. “A Polícia Militar atua em apoio quando é demandada nessas circunstâncias. Essa fiscalização não faz parte da atuação da PM, porém existem e já existiram ações da instituição quando houve denúncia e solicitação por parte da prefeitura”.
Não é de agora que o Ei Táxi acompanha a situação do transporte clandestino não só na capital como também no interior do Estado. De fato, o taxista Reginald Cohim gastou muita sola de sapato, tempo e saliva, muitos políticos ganharam votos prometendo resolver o problema, representantes das forças policiais do estado já se comprometeram em dar um fim nessa ilegalidade, até o Ministério Público da Bahia já teve o seu papel neste longa-metragem. No entanto, ninguém foi capaz de acabar com este problema.
Respostas de 2
Sou taxista a onze anos,Hoje vejo q acabou a classe.o próprio governo federal quando liberou, apenas olhando as vendagens dos veículo lamentando as arrecadações. Já imaginara q seria o fim.Politicos do olham para votos e arrecadação o resto é resto