Passados pouco mais de dois anos, desde que a Uber chegou ao Brasil, aqui em Salvador há cerca de um ano, que a realidade do taxista mudou e com ela surgiram desafios a serem enfrentados. Infelizmente, a grande maioria ainda não teve coragem ou quem sabe preparo para isso.
Com o surgimento dos aplicativos que utilizam veículos particulares para competir com o serviço de táxi, leia-se Uber, o dia a dia do taxista sofreu impactos significativos.
A perda de clientes foi o primeiro deles. Os passageiros viram na Uber uma forma de economizar, especialmente num momento de crise.
Após a debandada da clientela, vieram queixas sobre a conduta de muitos taxistas. Nas redes sociais e nos bate-papos, as pessoas passaram a relatar problemas que tiveram dentro ou fora do táxi. Recusa de corridas curtas; cobranças fora do taxímetro; viagens com roteiros prolongados e até relatos de taxistas que colocavam o passageiro para descer do táxi, antes do seu destino. Parecia que as pessoas estavam se sentindo na hora de dar o troco.
Em seguida, o questionamento foi sobre o atendimento da classe. Queixas sobre a falta de cordialidade do taxista; a respeito da vestimenta dele; da indiferença do taxista com as malas dos passageiros; daqueles que fumam dentro do táxi; e até daqueles que se sentem em casa e ouvem o rádio na frequência que desejam e num volume inadequado.
O reflexo disso tudo, não há dúvidas, foi a queda brusca de faturamento. A categoria perdeu cerca de 60% daquilo que faturava mensalmente. Esse resultado tem causado desespero em muitos profissionais que veem suas dívidas aumentarem como uma bola de neve.
Mas e aí? Diante de um cenário de tantos desafios a serem enfrentados, o que se vê?
Infelizmente, nota-se uma inércia quase que total deste profissional. O taxista, sequer, aceita as críticas, mesmo aquelas possíveis. Ele tende a se revoltar contra o interlocutor. O problema neste caso é que o interlocutor é também o cliente do taxista. Pois é, difícil de acreditar, mas o taxista entra em confronto com aquele que compra o seu serviço.
Esse comportamento, da maioria da classe, não só piora o quadro como também cria dificuldades para que ela supere as barreiras. É difícil, realmente, fazer autocrítica. Primeiro, é necessário ouvir o outro e tentar fazê-lo acreditar que há disposição para mudar esse retrospecto negativo.
A categoria precisa acordar de uma vez e enxergar que os desafios são colocados em nossas vidas para serem superados. A fase carece de uma reflexão profunda sobre o que se fez, o que se está fazendo e o que se quer. Pra isso, não basta passar o dia perdendo tempo e gastando dados de internet nos grupos de WhatsApp. O mundo não é virtual, pra se viver é necessário assumir compromissos reais.
Quem quer ser profissional e reconquistar clientes, tem que se esforçar para tal. Curso de qualificação não é um curso obrigatório que se faz sobre trânsito e mecânica a cada cinco anos. Qualificação de verdade passa por curso de atendimento, de marketing pessoal, empreendedorismo, história da cidade e cursos de línguas estrangeiras, dentre outros. Não se pede um atendimento excepcional, apenas aquele que agrade as pessoas. É necessário, sim, rediscutir o valor da tarifa do táxi. É duro assumir isso, mas a maioria da população não tem condições financeiras para andar de táxi. É reduzir para se ganhar no volume.
Enfim, o que se quer é algo possível de se oferecer. Portanto, ou a categoria acorda definitivamente pra vida ou as dívidas não vão parar de subir.