O ilustre taxista baiano José Aurélio Silva do Couto (A-1567), de 57 anos, popularmente conhecido como “Zé do Gol”, venceu a Covid-19 e continua com sua irreverência em transmitir alegria às pessoas. Diagnosticado com a doença, ficou internado por alguns dias no mês de maio, mas a esperança foi o maior aliado para a sua recuperação. Enquanto estava no hospital, também alegrou alguns pacientes, numa demonstração de solidariedade e amor ao próximo. A sua esposa, que também foi hospitalizada, assim como ele, recebeu alta.
O personagem, que ficou reconhecido nacionalmente, nasceu por um acaso. Enquanto assistia uma partida de futebol, que marcou o título do Palmeiras na Copa Libertadores da América, em 1999, o jogador baiano Oséas comemorou o gol homenageando Salvador pelos seus 450 anos de fundação. Antes de se tornar Zé do Gol, José Aureliano decidiu prestar um reconhecimento ao jogador em formato de música: “Gol de Oséas”. “Quando vi o gesto, em ter mostrado uma camisa comemorativa na TV, me emocionei. Ele também merecia ser lembrado. Daí, veio o refrão e, depois, fiz o resto”, contou.
“Ele é o terror dos goleiros, é o artilheiro, é o artilheiro. Quando chega na área, pode crer que vai ser gol, é gol, é gol, Oséias Marcou. É gol, é gol, e a galera vibrou. É gol, é gol, Oséias marcou. É gol, é gol, e a galera delirou. Na Libertadores, ele brilhou e não esqueceu de Salvador. O gol, o gol, ele presenteou. Salvador agradece com muito amor”, diz um trecho da canção. Nesse mesmo ano, ele gravou o primeiro CD. Entre as faixas estão: “Gol de Amor” (sobre a violência nos estádios) e “Quebra, quebra, rala, rala (sobre a gastronomia local)”.
A vitória que marcou o penta do Brasil na Copa do Mundo de 2002 também serviu de inspiração para Zé do Gol e criou a música “Penta”. “As pessoas me cobravam porque tinha feito uma canção para Oséas, mas não da seleção. Faltando pouco para a final, soltei a música. No dia da vitória, foi muito emocionante as pessoas cantando. Subi no palco. Algo que sonhava apenas criança, fazendo o pente da minha mãe de microfone, se transformou em realidade. Não esperava esse carinho do público”, relembrou.
Apesar da intenção de entrar na carreira artística, o seu contato com a música foi desde criança quando criava composições junto com o seu irmão mais velho, Ivonei, que tocava violão. “Pegávamos as panelas da minha mãe para fazer a bateria e ela reclamava. Já a vassoura, era a nossa guitarra. As visitas diziam que seríamos famosos”, disse. Fruto dessa parceria de infância, foi criada a canção “Gata, gatinha, gatona”, que fez parte do primeiro álbum.
Com a repercussão do seu trabalho, José Aurélio foi batizado de “Zé do Gol”. Agora, vestia uma roupa do Brasil com a frase: “é gol de amor com Zé do Gol”, meia, chuteira, peruca e óculos, além de uma bola na mão e um microfone no peito. “Nas ruas, as pessoas gritavam é gol. Não me chamavam mais pelo nome”, relembrou, sorrindo.
Junto com a esposa, foi para o Rio de Janeiro no dia do seu aniversário, 16 de abril, em busca de mais um sonho: participar do programa do Faustão, apresentador da então emissora TV Globo. Em frente ao estúdio de gravação, levava uma faixa pedindo para se apresentar. Ao todo, foram 23 dias e duas participações. Ele também participou do “Programa Nossa Gente é Sucesso” com Tia Arilma pela TVC (emissora de Camaçari), apresentadora de grande repercussão de Salvador.
RETORNO – Com o falecimento da primeira esposa, Zé do Gol “guardou as chuteiras” por cinco anos. Após esse período, retornou com o personagem após se apresentar no aniversário do filho, fruto de um novo relacionamento e, também, de um cliente que se tornou amigo, Joseval, que o incentivou. Nos dias atuais, é convidado a participar de aniversários e eventos, além de exercer a função de taxista.
TAXISTA – Filho de taxista, José Aurélio iniciou o mesmo trabalho aos 18 anos, mas vem exercendo de forma contínua há 10 anos. Dois dos seus cinco filhos já seguiram a profissão, além do seu cunhado que continua. Aos seus amigos, envia mensagens descontraídas, na mesma melodia que fez a música em homenagem ao jogador Oséas, seja de feliz aniversário ou de bom dia.
SOCIAL – Após a sua experiência no Rio de Janeiro e as dificuldades enfrentadas para alimentação e hospedagem, em querer participar do programa do Faustão, Zé do Gol voltou para Salvador com um olhar mais social. E, desde então, desenvolve trabalhos comunitários. Por conta da Covid-19, o seu desejo é fazer uma live para arrecadar donativos aos amigos taxistas que foram impactados financeiramente, mas precisa de apoio de patrocinadores.
Por Daniel Júnior