Os taxistas de Salvador estão enfrentando uma situação crítica com a Coordenação de Táxi e Transportes Especiais (Cotae). A implementação do sistema Salvador Digital, que deveria facilitar os processos burocráticos, se transformou em um pesadelo diário para os profissionais. Relatos de dificuldades em renovar o crachá e a falta de protocolos provisórios estão deixando os taxistas sem condições de trabalho, gerando desespero e indignação na categoria.
Denis Paim, Presidente da AGT, Alerta sobre a Crise
Denis Paim, presidente da Associação Geral dos Taxistas (AGT), tem sido procurado por muitos taxistas em busca de uma solução. “Os colegas estão impedidos de trabalhar e não sabem o que fazer para honrar com seus compromissos financeiros. Temos ouvido muitos desabafos de colegas desesperados”, relatou Paim.
Ele também destacou a falta de ação das autoridades: “A chefe da Cotae, Luile Nevez, o diretor de transporte, Armando Yokoshiro, e o secretário da Secretaria de Mobilidade (Semob), Fabrizzio Muller permanecem calados diante da situação. O prefeito Bruno Reis precisa tomar uma providência para resolver de uma vez esse problema.”
Relatos de taxistas, que pediram para não ser identificados com medo de represálias, sobre a situação do Salvador Digital e a falta de atendimento na Cotae:
Caso 1: Desespero e Perseguição nas Ruas
“Eu tô desde o dia 17, tentando fazer meu crachá. Estive aqui na segunda-feira, disseram que eu tava com problema na Sefaz [Secretaria da Fazenda], eu fui resolver o problema. Quando eu voltei pra Cotae, dia 18, tinham roubado os cabos de energia. Na quinta-feira, voltei na Cotae e tinha uma paralisação, não pude entrar. Quando cheguei na sexta-feira (21), o sistema tinha caído e eu não consegui resolver minha situação. Então, precisei trabalhar, mesmo sem o crachá, pra recuperar a semana toda parado. A fiscalização me parou, me notificou e tomou o meu crachá e o cartão do alvará. Fui forçado a continuar trabalhando, no sábado, pra comprar comida, mesmo sem o crachá e sem o alvará, que eles tinham levado. Voltei na terça, dia 25, e o sistema tava oscilando e depois parou. Fiquei aguardando o sistema retornar, mas por volta de 11h40 da manhã, eles pararam de trabalhar pra almoçar. Aí eu pergunto, como é que é possível trabalhar sem crachá, com a perseguição dessa na rua? Me diga aí, a vergonha que você passa, do fiscal parar seu carro, você sem crachá, mandar o cliente descer do carro porque ele vai apreender o veículo? E quem vai me dar esse dinheiro pra tirar esse carro desse pátio? Como é que resolve isso, como é que eu trabalho? O dono do carro quer o dinheiro. Como é que você faz crachá sem sistema? Como é que um poder público desse não tem sistema? Eu sinto vergonha quando chego em casa e olho minha família esperando que eu possa sustentá-la. É muito triste isso!”
Caso 2: Humilhação e Descaso
“Eu tive que me humilhar lá, meu irmão. Me humilhei, porque o cara não queria me atender, disse que era ordem da coordenadora, para encerrar o atendimento. Isso foi na sexta, dia 21, mais ou menos às 13h. Pra minha sorte esse Denis Paim apareceu lá, eu nem conhecia ele pessoalmente, mas ele conversou com o cara lá e me entregaram o crachá. Tive que pedir desculpas porque acabei me estressando, mas tive que me humilhar, meu irmão. É desse jeito que o taxista é tratado ali, parece que estamos pedindo favor, uma humilhação só!”
Caso 3: Sistema Inoperante e Falta de Protocolo
“Meu crachá vencerá no início de julho, eu gosto de me antecipar. Primeiro, eu tentei acessar o sistema pelo meu smartphone, mas o site não abria. Aí resolvi ir na Cotae, na última terça (25), mas chegando lá, eles já foram falando que agora é tudo online. Aí, eu expliquei que não estava conseguindo fazer online, que o site não estava abrindo. Aí o funcionário lá tentou me ajudar, mas os computadores da Cotae não tiram foto, então não deu certo. Aí fui no menino da xerox, e ele me disse que nem ia iniciar o processo, porque o sistema estava instável. Aí esperei minha filha chegar do trabalho, fomos fazer pelo computador de minha casa. Fomos fazendo, o passo a passo, baixando as certidões, escaneando todos os documentos, fazendo todo o processo direitinho, mas quando chegou no final, que você vai concluir, aí o sistema diz que manda um e-mail pra você, com seis números, que é tipo sua assinatura digital, para concluir o serviço, mas esse e-mail não chega. Eu tentei quatro vezes, fiquei quase uma hora e quarenta e cinco minutos no computador com minha filha e não consegui. Ontem, fui na Cotae, mesmo vendo a notícia no Ei Táxi, que o sistema estava instável, e o pessoal da xerox conseguiu me ajudar, porque o sistema tinha voltado. Depois de uns e-mails confusos, que eles enviaram para mim, eu consegui emitir e pagar o DAM [Documento de Arrecadação Municipal]. Agora, estou aguardando meu crachá ser emitido, mas foi uma luta. Eu vi, em matérias, que o secretário e a coordenadora, disseram que seria uma coisa muito fácil, muito simples, que ia poder fazer de casa. Na teoria é assim, mas na prática, não tá acontecendo isso. A gente não tá conseguindo e, agora, eles não dão mais protocolo provisório. Se pegarem você na rua, com seu crachá vencido, vão querer apreender seu carro, você não terá culpa nenhuma, mas eles vão te considerar um infrator e vão te punir.”
Caso 4: Indignação e Abandono
“Gente de idade aqui sofrendo, desde quinta-feira. Tá todo mundo sofrendo aqui, rapaz. Tem que falar com o prefeito, tem que resolver isso daí. Você vai lá dentro dos gabinetes, tá todo mundo de braços cruzados, jogando conversa fora e a gente sofrendo aqui. O sistema caiu, todo dia é a mesma coisa. Quando chega às 15h, fecha tudo, todo mundo vai pra casa e a gente fica aqui sofrendo. Pelo amor de Deus, não é possível uma coisa dessa. Eu tô indignado com isso aqui.”
Mobilização Prometida pela AGT
Denis Paim, prometeu mobilização nos próximos dias: “São 13 horas e 30 minutos do dia 21 de junho, mas aqui [na Cotae] o São João já começou. Amanhã é sábado, segunda é feriado, mas ninguém conseguiu agendar, ninguém conseguiu o serviço. Quando fomos lá na sala, a coordenação não podia atender. Mais de 10 servidores parados, sem fazer nada, dizendo que a determinação da coordenadora era só atender com agendamento, mas eles estão dizendo que não sai mais agendamento, que os agendamentos estão travados. O colega esteve nesse início de tarde, só para pegar o selo e fazer a vistoria do carro dele, mas não conseguiu atendimento. Tem um supervisor com o nome de João, que disse que a determinação é essa, que não pode fazer nada, mas a gente sabe que pode sim. Quer dizer, o colega vai ficar hoje, amanhã, domingo, segunda, sem fazer o trabalho. E se for pra rua, vai ter o veículo preso. Que desumanidade estão fazendo com a categoria. Os colegas têm que acordar, porque muitos, quando a gente chama pra se mobilizar, não querem ir. Mas uma vez eu vou dizer, não tenho medo de perseguição.”
A indignação dos taxistas de Salvador com o Salvador Digital e a ineficiência da Cotae é clara. É imperativo que as autoridades municipais tomem medidas imediatas para resolver essa crise, garantindo que os profissionais possam trabalhar sem serem penalizados por falhas que não são de sua responsabilidade. É hora de ouvir e agir em prol dos trabalhadores que movimentam a cidade.
Posição do Ei Táxi
O prefeito de Salvador, Bruno Reis, precisa se manifestar e tomar uma atitude prática sobre essa situação, porque ele também segue em silêncio, sem admitir que é o maior responsável por tudo que vem ocorrendo, já que não toma nenhuma providência que resolva de uma vez esse problema.
Enquanto vários taxistas são prejudicados diariamente, ninguém é responsabilizado. Por onde anda o Ministério Público da Bahia (MP-BA), que finge não ver? E os vereadores que apoiam o prefeito, estão amarrados pela conveniência partidária? Na Câmara, nem a oposição se manifesta, são omissos como a bancada de situação.