Após oito anos à frente da Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), Fabrizzio Müller assume a Secretaria de Mobilidade (SEMOB) com o desafio de inovar, atendendo demandas do cidadão por uma mobilidade urbana eficiente e resolvendo conflitos entre os modais. Em se tratando de táxi, o novo secretário terá que encontrar soluções novas para problemas já conhecidos, além de tentar oxigenar um setor que precisa urgentemente de fomento, uma bússola para reencontrar o seu melhor caminho.
Batemos um papo à distância com Fabrizzio Müller para saber dele o que pensa para o segmento de táxi de Salvador, mas também como pode melhorar as condições dos profissionais de outras cidades que precisam vir à capital com frequência.
Pontos de táxis desativados
A cidade, nos últimos oito anos, vem passando por muitas modificações, sobretudo com obras de grande complexidade e, às vezes, o que parece da noite para o dia, tem muita discussão. Isso ocorrerá muito esse ano com a obra do BRT. Fazendo um mea-culpa, em algum momento pode ter tido uma falha de comunicação mais próxima entre a SEMOB [Secretaria de Mobilidade] e COTAE [Coordenação de Táxi e Transportes Especiais]. Isso não é o nosso desejo. É uma preocupação que a gente precisa ter pra que não aconteça mais. Mas o que é preciso entender é que a cidade é muito dinâmica, às vezes, a gente precisa fazer remanejamentos, retiradas.
Vagas de apoio para táxis da RMS no aeroporto de Salvador
É a primeira vez que ouço uma demanda como essa. Seria preciso entender onde seriam esses locais. Não podemos comparar Salvador com cidades menores. Teríamos que entender a necessidade pra ver se é possível tecnicamente.
Acesso de táxis da RMS aos circuitos do carnaval
Avaliar sempre, tentar melhorar sempre, mas o Carnaval de Salvador é uma festa que não tem similaridade com nenhuma festa no mundo. Uma festa complexa, infelizmente, impõe algumas restrições, senão seria uma loucura. Pra se ter uma ideia, em 2013, o congestionamento do acesso ao Carnaval batia na BR 324, temos imagens de helicóptero. Nos últimos anos, o congestionamento, no máximo, chega na Fonte Nova. Isso foi em razão de mudanças que exigiam restrições. É o caso dos aplicativos, que são cinco ou seis vezes o número do táxi. Como vou permitir o mesmo acesso? A gente tem que buscar alternativas pra atender o cidadão, mas a gente tem que entender que sempre existirão limitações. Mas a gente pode avaliar.
Transporte clandestino
Eu participei das últimas reuniões, em 2013, que envolveram até o Ministério Público sobre esse assunto, que discutia o alinhamento entre prefeitura e Estado para que fosse possível a atuação da Polícia Militar. O que houve foi que isso foi desaparecendo com a chegada dos aplicativos, inclusive o próprio MP fez recomendações na questão da fiscalização dos aplicativos, se não me engano. Hoje, o clandestino continua existindo, só que, agora, ele está transvestido de Uber, o que torna praticamente impossível de ser fiscalizado. Sobre aqueles que ficam aliciando os passageiros no saguão do aeroporto, durante um período, nós apertamos [notificaram] os carros que ficavam na área externa, mas aí eles começaram a parar no estacionamento e entrar pra aliciar o passageiro. Neste caso, a Transalvador não pode fazer nada, porque não é crime de trânsito. Mas a gente vai avaliar até onde a gente pode ir, legalmente, pra tentar coibir essa prática, que é desagradável demais para os passageiros.
Vistorias e fiscalização de aplicativos
Essa é uma agenda que ainda não tive como mergulhar, porque desconhecemos o número. É algo que a gente vai ter que entender pra buscar a solução. Por meios próprios te adianto que é difícil, a prefeitura não tem estrutura própria pra isso [vistoriar toda a frota]. Temos que ver se vamos credenciar empresas, ver a melhor solução. Sobre a fiscalização terá que ser feita pela prefeitura, não podemos terceirizar. Existe um concurso público que já foi realizado, convocações devem acontecer. Além disso, tem muita coisa que a tecnologia vai nos ajudar.
Cadastros de táxis negados pela Uber
Soube disso recentemente. Vou manter contato com a Uber e buscar entender o que existe, de fato, porque não faz sentido já que quanto mais carros, melhor pra eles.
Reajuste da tarifa de táxi
Recebi as solicitações do Sindicato [contra o aumento] e da AGT [Associação Geral dos Taxistas – a favor do reajuste]. Isso já está sendo avaliado internamente pra que a gente possa levar para o prefeito. Se a categoria é a favor do aumento, a gente deve estar deliberando nos próximos dias.
Aplicativo de táxi
A prefeitura deve se envolver. Acho que houve erros estratégicos nas tentativas anteriores. Conheço o aplicativo do Rio de Janeiro, a presidente da CET Rio [Companhia de Engenharia de Tráfego] é até uma amiga minha e ficamos de conversar pra eu entender a operação deles. Mas temos tecnologia aqui, nós conhecemos a nossa cidade. Sou favorável a termos o nosso App.
Qualificação do serviço e capacitação do taxista
Vamos ter que trabalhar formas de prover essa capacitação, mas é preciso entender que quando a gente quer crescer, a gente precisa buscar por nossos meios também. Imagino que a maior dificuldade aconteça naquela parcela de profissionais mais antigos.
A primeira categoria que conversei foi a de taxista. Estavam vários representantes e falei com eles sobre a questão de aplicativos, por exemplo. Acho que a gente tem que virar essa página, aplicativo é uma realidade. Acho que temos que reaproximar o taxista do cidadão, mas não adianta achar que vamos lançar um App e concorrer com uma potência mundial. Se chega um turista estrangeiro, pode ter certeza de que ele vem com Uber na cabeça. A gente sabe que as atitudes de poucos, afastaram as pessoas do táxi. Precisamos parar de ficar remoendo os problemas. A gente tem que entender os pontos fortes e fracos do táxi e valorizar os pontos positivos. Por exemplo, a gente pode usar o que os aplicativos têm de bom como a possibilidade de avaliação do motorista através do App; criar categorias como o taxista cinco estrelas. Há uma tendência mundial entre os jovens em não querer mais dirigir, precisamos vender melhor esse produto e aproveitar essa oportunidade. Eu sou um entusiasta em inovações, aproveitar boas ideias.
Inovações no sistema de táxi
Posso lhe assegurar que a minha cabeça está fervilhando de ideias, até trouxe uma pessoa da área de inovações pra trabalhar conosco aqui. Será um período de muita inovação. Por exemplo, você permitir que o táxi possa carregar uma bicicleta no fundo, acho ótimo! Poderíamos ter um QR Code na porta para que o passageiro possa conhecer todo o histórico do taxista, a sua avaliação. Mas a padronização, já acho um dos pontos fortes do táxi, do ponto de vista de segurança. Tem muita coisa por vir, precisamos de tempo.
Mensagem para a categoria
Queria dizer que entendemos as críticas. Eu estava à frente de um dos órgãos mais disciplinadores da cidade, o que gera muito conflito, embora isso esteja melhorando. Mas é preciso que todos entendam que nunca houve nenhuma perseguição a uma determinada categoria. O cara reclama do ponto que estava ali há trinta anos, mas a cidade mudou. Às vezes a gente vai precisar de mais uma faixa. Eu quero aproximação com a categoria, quero deixar um legado. Não irei mudar as minhas convicções do que é certo ou errado, mas já mudei o chip. A SEMOB é um órgão que tem como finalidade criar políticas públicas de mobilidade. Estou aqui pra tentar colaborar com a mobilidade da cidade sem esquecer dos modais de transporte como o táxi.
Uma resposta
Estamos a disposição dos novos gestores da SEMOB.