Por Conrado Matos
Na mitologia grega existe a história de Narciso, o autoadmirador. O rapaz era bonito e encantava a todos, porém era bastante orgulhoso e vaidoso que ninguém conseguia quebrar. Todas as moças eram desprezadas pela arrogância de Narciso. Certo dia, a deusa Némises condenou Narciso a deitar-se no banco de um rio. Ele se definhou na água, olhando-se e se embelezando até morrer. Depois da sua morte, ele vira uma flor.
O que quero contextualizar aqui com essa história de Narciso? Olhando para nossa atualidade, percebemos um mundo onde as pessoas vivem cheias de vaidade. Passam por nós e nem nos cumprimentam. Nos elevadores dos condomínios, elas levantam a cabeça para olhar para os andares e evitam olhar para nossa cara. Algumas nem nos dão um “Bom dia”. Isso é lamentável! Vê uma pessoa com tanto conhecimento e amparo tecnológico, mas pobre de afeto.
A vaidade humana tomou lugar nas relações interpessoais, onde as pessoas ficam presas aos seus próprios umbigos sem dá importância para o outro. Como se trata de um comportamento narcísico, o orgulho e a arrogância têm feito quebras de relacionamentos. As relações amorosas, pais e filhos perderam o valor de família.
Por outro lado existem as ideologias provocadoras de sintomas e de mal-estar. Os discursos nas redes sociais demonstram isso. A vaidade neste campo social é apenas para alguns, de quererem se mostrar, de não ouvir o outro e aceitá-lo como ele é. As falas são em maioria, preconceituosas e racistas. Atingem o outro sem o mínimo de respeito e dignidade humana, desprezando e excluindo.
Os vaidosos despertam superioridade e querem ser o centro de tudo, desprezando os demais. Não têm atitude de inclusão. Isso é visto no ambiente de trabalho, na vida afetiva e na política. Como podemos desafiar essa crise afetiva e de valores? Temos uma saída? O desejo de alguns é de que isso acabe. Todavia, as pessoas precisam desenvolver relações mais próximas, diminuindo com o distanciamento afetivo e se colocando mais no lugar do outro para que vivenciem experiências sentimentais, procurando-os estender as mãos para os que estão na zona da necessidade. A vaidade humana somente diminuirá com um olhar de reflexão e conscientização para as necessidades dos que estão na exclusão. Ou seja, um olhar de direitos humanos, onde todos sejam iguais perante a vida. É preciso abraçar valores éticos e morais, para eliminar com a leviandade e a corrupção. Essa corrupção em nosso país é, sobretudo, provocada também pela vaidade de quem quer ostentar poder e grandes fortunas. Pense nisso!
Conrado Matos é Psicanalista, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia; Pós-graduando em Educação em Gênero e Direitos humanos pelo NEIM/UFBA.