Na Bahia, terra de vocabulário próprio e cultura peculiar, as coisas mal feitas, feitas às pressas e com muitos defeitos e erros – às vezes fatais – são chamadas de armengues, quebra-galhos, puxadinhos, armação ou cacete armado.
Conheci um político de uma importante cidade do interior que se orgulhava de ser semi-alfabetizado e ter alcançado a condição de Prefeito Municipal. Uma honra e uma glória pessoal, um troféu para os iguais que lhe confiaram os destinos da cidade. Assim, têm nome de populistas e apelido de populares os políticos que abdicam do certo e legal em nome do cacete armado nas administrações, basicamente sustentados em ilegalidades e irregularidades. É bem verdade que não há uma relação de causa e efeito direta entre o analfabetismo dos homens públicos e as más gestões das cidades, embora seja inaceitável que gestores públicos não tenham noção do que seja governar e administrar, até porque têm sido os cultos e os formados, com exceções, que estão destruindo as cidades, estados, o país e o mundo.
Pois bem, para nós administradores, é possível afirmar que, diante das carências e dos problemas do Estado brasileiro, nos seus três níveis, das suas complexidades e profundidade, do histórico e raízes, nossas cidades são inadministráveis, sem solução, com tendências de agravamento.
Ao comemorar, e muito, as exceções, os avanços, as melhorias pontuais e localizadas, voltamos ao tema desse artigo – A Cultura do Cacete Armado.
Não deve dizer que conhece uma cidade quem não anda por toda ela, quem não conhece todos os bairros, quem não olha com profunda empatia a vida dos seus irmãos de terra, espaço e mesmo ambiente contemporâneo.
A apropriação, uso ilegal, imoral e criminoso dos espaços urbanos é a base física da ideologia do cacete armado, da esculhambação urbana, paisagística, ambiental, jurídico-fundiária e legal no uso e destinação dos espaços urbanos e rurais nesse país de grandes e caras, porém ineficientes e arcaicas, estruturas públicas.
Nas ruas em que muitas vezes não passam carros e motos, os ditos becos e vielas, passa gente, passa vida e saúde, passa sanidade física e mental. Na maioria dos lugares falta qualidade de vida, condições mínimas de sobrevivência. Na cultura do cacete armado os governantes acham que as coisas se resolvem com discursos, com leis e projetos, com inaugurações e propaganda, mas, quem leva a vida conscientemente sabe que essas mentiras continuadas são a sustentação dos armengues, dos puxadinhos, das invasões e grilagem, das milícias e máfias, tudo isso no mesmo balaio e saco do cacete armado.
São seculares formas de dominação, de manutenção de poder.
Tem gente que nasce, cresce, vive e morre no absurdo da ausência do Estado que sustenta, do poder público que banca, mas a todos desejamos civilidade, humanidade, educação e vida digna.
Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Administrador, Consultor, Palestrante e Empresário do setor de publicidade
Respostas de 3
Muito boa análise
Baianidade tolerante com erros sistêmicos..
E isso, como demonstra o bom texto de Aquino interessa a muitos.
Se fosse só folclore, seria curioso. Ocorre que isso tem custos, que são pagos por todos.
A pensar….
Excelente artigo. As sabias definições do povo desafiam o passar do tempo e permanecem vivas nas comunidades.