Talvez o nobre secretário tenha esquecido das taxas municipais que são pagas há anos pela categoria – Foto: Sandro Barros/PMO
Por Rodrigo Malveira
“Por uma questão de apoio ao carnaval, a gente não podia negar uma receita de R$ 1,3 milhões, até porque o táxi poderia ter patrocinado também e a gente deixaria só os táxis entrarem”. Foi com essa frase que o secretário de trânsito e transportes de Olinda, Jonas Ribeiro, quis resumir, em entrevista concedida ao jornal Ei, Táxi em abril, o grande problema de mobilidade urbana que a cidade enfrentou em mais um ano de parceria com a Uber no período carnavalesco. Após diversas reclamações feitas por taxistas sobre condutas irregulares de motoristas por aplicativo, o argumento do patrocínio foi evocado como escape da prefeitura mais uma vez para defendê-los.
“O Uber pôde ficar na Avenida Sigismundo Gonçalves, que é a principal, e a gente não podia rodar lá. Também não houve fiscalização, estava entrando todo carro particular. No primeiro dia, o aplicativo barrou os taxistas de entrarem em Olinda. Isso foi uma falta de respeito”, reclamou Paulo André Barata (TP 136), de 35 anos, mostrando a realidade que os taxistas enfrentaram. Para o motorista, a declaração do secretário causa revolta. “A gente vai pagar o quê se somos transporte deles? Como vou ter que pagar para ter prioridade em algo que sou o transporte municipal? Querer que a gente seja patrocinador é absurdo”, pontuou.
Ignorando as consequências do trânsito, o secretário Jonas afirma que a parceria com o transporte privado busca suprir uma suposta carência de táxis para atender a demanda do carnaval. “Fico imaginando como os táxis de Olinda conseguiriam cobrir toda situação só com os 800 carros que temos no município. Hoje o aplicativo pode até trazer problema na mobilidade, mas ele foi de grande importância para os 4,5 milhões de pessoas no carnaval. Como esse povo ia entrar e sair daqui se a gente não dá condição de transporte”, exaltou.
A afirmação é rebatida por taxistas que, lembram que, antes do Uber, o táxi sempre atuou bem no carnaval de Olinda. “Recife tem uma média de 6 mil, Olinda, 800, Paulista, uns 700, e foi feito o acordo metropolitano que entra Recife, Olinda, Jaboatão, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, então quer dizer que essa quantidade de táxi não supria a demanda? Isso é conversa furada da prefeitura” observou a taxista Renata Montenegro (TP 695), de 35 anos.
Em contato com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), a assessoria informou que havia recebido representações sobre as denúncias de taxistas contra o secretário e que elas foram encaminhadas para a Promotoria de Patrimônio Público e para a de Habitação e Urbanismo do Município de Olinda. Em ambas, as promotoras de Justiça decidiram arquivar o caso. Enquanto isso, taxistas seguirão sendo colocados em segundo plano pela administração pública da cidade alta.