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A Vida no Interior

Foto: reprodução de www.br.geoview.info
Foto: reprodução de www.br.geoview.info

 

Por Conrado Matos

 

Eu me recordo dos pés de mangueiras do grande quintal da minha casa quando vivi no interior de Nossa Senhora de Lourdes, situado no cerrado de Sergipe. Tinha aproximadamente uns dez ou mais pés de mangueiras. Pela manhã, logo cedo, eu saia para andar pelo terreno, muito mato próximo às cercas. Uma variedade de melões selvagens, ramas de favas, pés de velame-branco, uma planta do cerrado que serve para cicatrizar ferida. Usei sempre em cortes. No meio do chão, inúmeras onze horas, uma florzinha rasteira que tem nos jardins e nascem em terras secas, no meio da caatinga.

 

A vida do interior era saudável nessa época dos anos 70. Embora, nesse período passamos por uma seca terrível no sertão, faltava água e comida. Mas tínhamos paz da melhor forma do possível. Lembro que entre os pés das mangueiras, o meu avô armava uma rede para dormir. Eu subia nas mangueiras para tirar uma manga ou para me sentir realizado por ter subido no alto pé de manga. Eram os meus desafios da vida, as coisas naturais do interior, pois não tinha indústria e tudo era primário, vindo da natureza.

 

Recordo-me que criávamos alguns bichos, mais galinhas. Pela manhã nós jogávamos uma grande quantidade de milhos para elas se alimentarem. Ao entardecer, saíamos pelo mato ou nos ninhos em busca dos ovos, que nos serviam de alimento. Nunca ouvi falar em colesterol alto, as pessoas andavam bastante. Saiam para roça logo cedo para enfrentar a plantação e o sol quente. Uma cabaça e uma boia no ombro, enxada, foice e um tipo de picareta para fazer as covas, colocar as sementes e depois cobri-las com terra. Lá ia meu avô, fazendo a cova e eu colocando a semente e cobrindo com terra.

 

A labuta do sertanejo é de muitos desafios. Além de faltar as coisas para o sustento. Mas, por incrível que pareça, nós éramos felizes. A minha avó costurava e ensinava em casa para os adultos ainda analfabetos. O meu avô trabalhava na roça e ao mesmo tempo fazia fiscalização dos animais que andavam soltos pela rua comendo as plantas da praça. Ele recolhia os bichos e levava para um pasto chamado “Queimado” que pertencia à prefeitura local. Depois de pago uma multa, o animal era liberado ao seu dono. Era parecido como faz com os veículos que são levados por guinchos da Transalvador, onde depois que o dono do veículo paga a multa, tem seu carro liberado.

 

No interior dessa minha época, a regra era séria, as pessoas tinham respeito pelas outras. O patrimônio público era bem preservado. Ai daquele que ficasse jogando lixo pela rua! O homem do sertão não era de contaminar nada, se não tinha indústria. O que ocorria no sertão era a falta de infraestrutura que não existia, por falta de recursos. As ruas não eram nem asfaltadas. Éramos carentes pela escassez do serviço público. Quem viveu no sertão nordestino nessa época dos anos 70, sabe disso.

 

Pois é, eu gostei de morar no interior. Lá também tinha tudo para testar os meus potenciais de criança, estudava, brincava de pião, bola de gudes, jogava futebol, nadava em açudes e riachos. Eu montava em cavalos, jegues e andava em carro de bois. Tinha tudo de bonito para admirar, as flores silvestres, os girassois, as margaridas, as rosas e as mais diversas borboletas, principalmente, quando chegava a primavera. Saudade desses tempos!

 

foto de conrado

 

 

 

 

 

 

 

 

Conrado Matos

Psicanalista, Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia. Pós-graduando em educação em gênero e direitos humanos pelo Neim/Ufba. E-mail: [email protected]

 

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2 respostas

  1. Sua coluna, CONRADO é de uma extrema delicadeza, de quando vivia no Interior!! Que menino que já mostrava o interesse pela natureza!! Andava sempre observando a vegetação e os Animais!! Apesar que estava por um período de Seca , que é comum!! Como acho lindo seu amor pelos seus Avós e pela sua terra Nossa Senhora de Lourdes!!

    1. Obrigado amiga Gildete pelo atencioso comentário. Sua contribuiçao é importante. Meu abraço.

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